quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Primavera


Por aqui a viagem é bela. As águas são cristalinas e o teor alcoólico é mínimo. Quando se parte – volta, quando se cria – consome. Deste lado cantam para mim e me abanam o tempo todo como se não houvesse outra pessoa. A poesia é concreta, os muros não. Houve uma homenagem em nome de uma pessoa que eu não conhecia, fiquei feliz em saber que aqui se faz juz ao ilustre desconhecido. Quando questionei quem era, me disseram para não me preocupar, apenas comemorar junto.

Aqui eu respiro aliviado – aquela sensação de estar engolindo fogo a todo instante, nem sequer é lembrada por mim nessas alturas. Enquanto escrevo, um banquete é servido e todos esperam para o almoço que pode ser jantar e também pode ser almoço. Os transeuntes tocam o sino que soa como música clássica.

O ambiente gélido que liga uns aos outros, aqui se faz desnecessário. Os dentes são de marshmellow e as cicatrizes não estão mais expostas. O que se vê é um céu de uma cor ainda não identificada e incontáveis animais passeando pra lá e pra cá.

Não sei se digo para vocês voltem logo ou venham logo, mas de qualquer forma quero que saibam que estou muito bem aqui. Muito melhor que vocês. É tendencioso que se tenha inveja ao ouvir tal afirmação, porém ela não me alcança deste lado. Mesmo assim, faço valer a palavra para que então se possa crer que quando vierem para cá, saibam de fato o que estou falando.

É terminantemente proibido o acesso aos telescópios. Existe uma sala com dezenas deles que eu ainda não sei a finalidade. O que sei é que de vez em quando, algumas pessoas entram na sala e avistam vocês. Logo, saem com algumas anotações simbólicas.

Agora vou embora. Colocarei este papel dentro de uma garrafa e jogarei em seus oceanos. Espero que alguém inteligente e persuasivo tenha a sorte de achar. Pena que não posso entregar para quem deveria.