quinta-feira, 12 de maio de 2011

Uma carta ao presidente do mundo.


Caro presidente do mundo, escrevo para Vossa Excelência para reclamar sobre alguns acontecimentos que nós cidadãos enfrentamos diariamente. Semana passada, como Vossa Excelência bem sabe, morreu um terrorista muito famoso. Ele matou muita gente por acreditar que a paz provém de algo visível, a própria morte. Não quero adentrar muito no assunto já que Vossa Excelência sabe muito bem do que se trata.

Por não ser uma pessoa que conhece todos os cantos desse mundão que o Senhor governa, me restrinjo a falar de alguns fatos que viram notícia apenas aqui, nesse lugar chamado Brasil. Alguns preferem chamar por iniciativa própria, Brasil com ‘’Z’’ escrevendo então, Brazil. Se há ou não diferença, só Vossa Excelência poderá me dizer.

Tenho 26 anos de vida e algumas moedas no meu bolso. Procuro fazer o bem e desde sempre provoco discórdia com quem faz o contrário. Meus sonhos, princípios, bondade e hombridade, estão sendo constantemente ultrapassados por métodos que, ao contrário do que Vossa Excelência e eu pensamos, não é do agrado da maioria e mesmo assim estão surtindo efeito maior há um bom tempo. É triste pensar que em um lugar tão bonito como aqui, as pessoas sejam tão feias.

Certa vez me perguntei se seria obra do destino, ou apenas coincidência o fato de meu País ser apenas um país onde há beleza plena e que acontecimentos como terremotos, tsunamis, furacões, guerras e outras intempéries cataclísmicas estão fadados apenas aos povos que, por possuírem educação e conseqüentemente mais estudos do que nós brasileiros, conseguem de fato lidar com tais problemas de maneira muito mais eficaz do ponto de vista ético.

Semana passada, o preço da gasolina aqui no Brasil aumentou significativamente, dando um salto para aproximadamente R$ 3,00. Como sei que Vossa Excelência é muito inteligente, não pedirei para que faça o cálculo de quanto custa para encher um tanque. Sei que muitas leis por aqui e pelo mundo todo, são criadas sem o seu conhecimento prévio, o que indica a falta de discernimento e escrúpulos de membros filiados ao mesmo partido, para o bem de todos. Os jornais televisivos hoje em dia destinam de 60 a 70% de notícias de cunho catastróficas. Sejam elas falando sobre homicídios, terremotos, doenças, guerras, ódios, genocídios, etc., ou até mesmo sobre alguma felicidade momentânea.

As pessoas que ‘’governam o ‘’meu’’ país estão enlouquecidas meu caro presidente. Não sei o que fazer a respeito. Digo que aqui ficarei porque hoje não tenho condições financeiras de ir embora, senão, faria sem a menor culpa. Pergunto a Vossa Excelência: Qual a diferença de alguém que rouba leite para alguém que rouba dinheiro? Se os princípios éticos sabiamente escritos quando o Senhor assumiu a presidência deste mundo não valem mais, de que adianta tudo isso? Eu não quero viver em um lugar assim. Não quero mais ter filhos porque também não quero que eles passem uma vida inteira ouvindo melhorias e não conseguindo tateá-las. Dispomos de tudo e não usufruímos de nada.

É mais do que óbvio a igualdade corporal entre todos os viventes desse mundo. Está mais do que claro que possuo o mesmo tecido celular do que o meu vizinho, não importando sua respectiva cor, sexo, tamanho de pé ou inferioridade intelectual. Tendo em vista estes fatos que para mim são tão evidentes, sugiro a Vossa Excelência que fique de olhos atentos ao andar da carruagem. Aperte as rédeas desse pessoal que deita e rola diante de tudo, como se o tudo fosse o nada.

Percebo que em todos os cantos há um preconceito que traz consigo o perigo iminente de uma grande barbárie. Não há vizinhança nesse mundo que consiga viver em paz e sem inveja. Talvez algumas consigam disfarçar, porém outras botam tudo a perder. Americanos não gostam de canadenses, ingleses não gostam de franceses, brasileiros não gostam de argentinos, judeus não gostam de árabes e vice-versa para todos. Se estreitarmos ainda mais essas notórias e imbecis contravenções, veremos que nos próprios países anteriormente citados, há também em escala reduzida, a estúpida idéia de vizinhos invejosos – Em Estados, províncias, distritos, cidades, bairros e porque não, em casas.

Meus vizinhos de ‘’Pangea’’ logo aqui do lado, ainda passam fome excelentíssimo presidente. A criança que não pede para nascer vem ao mundo para desfrutar da célebre fome que para uns, vira arte de quadro. Há batuques por todos os lados, há cânticos por todos os lugares, há meditação em todas as esquinas e hoje, nenhum destes meios consegue intermediar o divino, aquilo que não conseguimos ver, pelo bem ou pelo mal.

Se quem rouba maviosamente, o faz para desfrutar o jardim colorido em outro canto do mundo, cabe ao excelentíssimo presidente, avisá-lo que, se ele não roubar, dentro de poucos anos, o jardim colorido também fará parte do ''nosso'' quintal público que ele não cansa de conhecer em outros cantos. Se isso não acontecer, restará para a maioria, gozar a beleza apenas por entreato da estória.

Peço encarecidamente a Vossa Excelência neste ofício que vos envio que leia com solicitude e que consiga interpor sua autoridade de modo em que todos os que gritam interna e silenciosamente, consigam viver de maneira mais agradável e sem necessitar de máscara ou maquiagem.

Atenciosamente,

Nós.


''Não há nada mais poluente do que a cabeça que pensa para si mesmo''


quinta-feira, 5 de maio de 2011

Minha massa

Quando caminho na cidade vejo um vilarejo. Um vilarejo de cegos, surdos e mudos. Nesse vilarejo, há pessoas de todos os estilos e padrões de vida. Há os ricos, há os pobres, há os falantes e há os ouvintes. E em meio a essa contradição amorosa, sigo o caminho em busca das respostas. No mundo que visito, as respostas caem do céu, porém são tantas que você quase nunca se depara com uma na frente.

Creio que eu precise de um pouco de fé. Nesse mundo de ilusões esperançosas, mendigo é poste e miséria é arte. Se a comida de quem tem fome trouxesse o relógio de quem não perde tempo, a matemática casaria. O laranja quando aceso, solta fumaça, e neste cinzeiro humano onde as incertezas tomam conta, só se protege das cinzas, quem sabe fumar. Algumas lembranças aqui, outros acontecimentos acolá e tudo para mim é como se fosse uma coisa só, sonho.

Entender a complexidade da vida nessa altura do campeonato é algo que eu não gostaria que estivesse acontecendo. No tempo determinado que isso ocorre, acabo prestando atenção demais em situações, animais, plantas e acabo percebendo o quão fascinante é, depois de observar tudo isso, ainda conseguir escrever isso de forma ordenada, onde meus pensamentos guiam-se por caminhos que eu não faço idéia de onde surgem. Quando olho para o meu cachorro e vejo-o com aqueles olhos brilhantes e carentes, logo percebo que talvez ele me olhe da mesma forma.

Pergunto-me qual a intensidade de uma criação a partir do momento em que uma simples idéia aflora em forma de pensamentos construtivos. Para mim, o fax, um simples telefone que envia papel para outros telefones, ainda é muito criativo e eu não entendo a complexidade do mesmo. Quando caminho por um shopping qualquer e vejo as tecnologias de prateleira prontinhas para serem consumidas pelos mais sedentos seres, faço uma análise um pouco pessimista sobre nossa atualidade. Vejo que embora o dinheiro possa comprar inúmeros ‘’mimos’’ tecnológicos, talvez ele não consiga comprar a consciência para decidir se aquilo deve realmente ser comprado.

Certo dia quando voltava para casa, me deparei com um mendigo deitado na calçada com uma manta improvisada e com alguns papéis que se faziam por travesseiro. Embora tais imagens sejam constantes em grandes cidades, não consigo voltar para casa e não pensar a respeito. O simples caminhar humano para lá e para cá beirando a cabeça daquele indivíduo mostra o quão equivocada está a natureza de nossa humanidade.

A evolução da humanidade se dá de forma tão mecânica e rápida que, ao mesmo tempo em que uns acham prazeroso visualizar e tocar seu instrumento comprado, outros se esquecem dos sentidos mais ‘’normais’’ que possuem. Organizar pensamentos de forma construtiva e natural é algo que quase ninguém consegue fazer hoje em dia. Foi dito que o cérebro humano, de pouco mais de 1 quilograma de massa, é o mais complexo e ordenado arranjo de matéria em todo o universo. Suas capacidades e seu potencial desconcertam nossa imaginação como um simples papel que se queima ao entrar em contato com fogo.

Se um cachorro nos pede comida, obviamente sabemos que está com fome. Ao analisarmos o simples fato desse acontecimento, nos deparamos com nosso sentido ‘’direito’’ de fazer as coisas. No esquerdo, há uma complexidade tão majestosa que faz qualquer criação mundana parecer um completo nada. Temos muito a doar. Temos tanto que, os que cobram por ‘’doações’’ implicitamente, nos impossibilitam de agir de forma honrosa e respeitável.

Continuarei andar pelas ruas da cidade, continuarei escrever textos que começam de um jeito e terminam de outro. Continuarei a examinar minha mente constantemente para que eu não me torne louco, mesmo pensando que fazendo isso, eu ficarei. Andar por aí sem sentido algum, todos fazem. Trabalhar para alimentar os anseios e torná-los domesticáveis, todos o fazem e, se não fazem, alguém faz por você.

‘’Quando olho para a imensidade deste céu que me cobre, faço-me voltar para mim e tento descobrir primeiro meu universo, depois o das estrelas.''