terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Entre ruas, fogos e pessoas


Tentando entender o processo entre uma louça e outra, onde o copo sujo de água já não está mais sujo no próximo matar de sede. Há também as secretas excitações de uma coerente varredura do chão, onde me deparo com as escrituras e um pensamento que divido com pessoas que não estão mais aqui para um diálogo aflorado sobre os abajures que se quebram durante um soco ao vento, sempre sem querer...

Era a longa confissão de dois camaradas contando um ao outro tudo o que acontecia, cada detalhe, até mesmo cada cabelo de mulher sobre a relva, cada minúscula olhadela para os lampejos do neon azul passando na parada de ônibus da Alameda Santos, todas as imagens do fundo do cérebro. Isso exigia frases que não necessariamente seguissem a exata e clássica ordem sintática, mas que pudessem ter interrupções com travessões, frases que se rompiam na metade, tomando outra direção (com parênteses que podiam seguir por parágrafos). Isso permitia frases individuais que podiam se estender sem se encerrar através de várias páginas de reminiscências pessoais, de interrupções e de acúmulos de detalhes, de modo que o que você acabava encontrando era uma espécie de fluxo de consciência cuja visão foi construída em torno de um assunto específico (a história da estrada) e um ponto de vista específico (dois camaradas tarde da noite se encontrando e se reconhecendo como personagens de Dostoiévski, contando um ao outro a história de suas infâncias).

Eles varavam as ruas juntos absorvendo tudo com aquele jeito que tinham no começo, e que mais tarde se tornaria muito mais melancólico, perceptivo e vazio. Mas nessa época eles dançavam pelas ruas como piões frenéticos e eu me arrastava na mesma direção como tenho feito toda minha vida, sempre rastejando atrás de pessoas que me interessam, porque, para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo agora, aqueles que nunca bocejam e que não me fazem bocejar e jamais falam chavões... mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício explodindo como constelações em cujo centro fervilhante – pode-se ver um brilho azul, verde, laranja ou até mesmo preto e branco. Até que todos se contemplem entre olhares de curiosidade e vontade de estar em todo lugar ao mesmo tempo – para apenas dizer quanto aquilo tudo foi importante.



2 comentários:

  1. Du esse texto me deu uma vontade imensa de viver!!! E dizer que para mim foi importante. Esse ficou incrivel!! Mas continua escrevendo pq sei que sempre me surpreenderei com vc!!

    beijo!!!

    ResponderExcluir
  2. Que sigamos atrás dessa loucura para o nosso próprio bem e em prol de um mundo de pessoas menos frustradas e mais felizes, de verdade.

    Muito bom! tamojunto

    ResponderExcluir