quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O menino que pensava demais.




Era uma vez um menino que pensava demais. Certa vez, ele arrumou suas malas, deixou seus carrinhos e partiu rumo ao conhecido tentando entender o desconhecido. Seu mundo era igualzinho ao de outras pessoas, porém suas inquietudes o tornaram um questionador sem fim. O infinito de sua cabeça tornara seu mundo, um mundo de ilusões esperançosas, onde seus atributos o fizeram crer que o amor ainda salvaria muitas pessoas de suas prisões melancólicas.

Ele tinha uma família muito pequena e também tinha um cachorrinho muito especial. Às vezes o seu próprio cachorro o achava retardado, também pudera! Quem mais no mundo poderia cantar paródias no melhor estilo ‘’cachorro latindo’’? O menino estava imerso na construção de seu chão, quando inesperadamente algum trator desconhecido o derrubava novamente.

Quantos tratores ainda passariam por ali? Essa era uma de suas maiores dúvidas e sempre que se perguntava, alguém feliz o respondia que na vida sempre haveria tratores, mas bastaria um mecânico para resolver o problema e suas desconstruções.

O menino tinha em seu redor, pessoas interessantes que o fizeram chegar até ali. O problema era sua dor de cabeça que não cessava e aumentava de acordo com seus pensamentos. Seria algo que ele não poderia entender? Seria algo que mais uma cápsula resolveria? Seria algo que um projétil resolveria? Ou haveria então um submundo cheio de seres estranhos tentando estragar sua cabeça?

O menino gostava muito de estudar, pena que em determinado momento de sua vida a continuação de seus estudos fora interrompida. Hoje, sua família ruiu, os mitos viraram verdade e seus ídolos desintegraram como pó. Do pó viemos, ao pó voltaremos? Quão clichês são essas frases feitas por homens que ainda não tinham ouvido nenhuma frase clichê.

Por que você rói suas unhas pergunta um ente querido? Ele preferia calar-se a responder o que passava na sua cabeça. Tudo pelo amor, ausentando-se da dor. Em uma quinta-feira comum, uma afirmação permeou em seus vastos caminhos cerebrais. Se algumas pessoas tivessem uma cabeça igual a sua, todos eles estariam reunidos e nunca se separariam. Isso porque o seu amor era realmente verdadeiro e não haveria distância, perdas ou ganhos que faria aquilo acabar.

Ah, se ele pudesse trocar seu mecanismo mental por uma perna quebrada ou por 6 meses numa cadeira de rodas. Ele via em sua atualidade uma visão centralizada no reparo constante que o dinheiro estava cometendo. Cada vez mais e mais, o mundo só pensava naquilo e não conseguia enxergar um abutre que mastigava os restos mortais de uma criança negra esquecida pela humanidade e que, diga-se de passagem, não pediu para nascer.

Ora estava aqui, ora estava ali, todavia sempre quis estar em um lugar definido pelos seus sonhos que, constantemente eram interrompidos por falhas que ele acreditava ser acima de tudo, propriamente dele. Seus quadros, seus carrinhos, seus jogos, seus objetos materiais não tinham mais valor, porque jamais conseguiram uma prateleira para se fixarem. Era mais fácil ele inventar falácias do que dizer para todos os curiosos e sádicos porque sua vida se tornara daquele jeito.

Seu entendimento ia diminuindo à medida que seu número de livros lidos aumentava. ‘’As pessoas têm o hábito de perguntar sobre nossa vida para projetar sua imagem a nossa. ’’ Assim são as pessoas, pensava o menino. Não especificamente por mal, mas ele acreditava que em sua essência, nenhuma pessoa conseguiria compartilhar o pão na hora em que ele saísse do forno, quentinho e crocante. Em todo o momento a gente faz auto-análise e, enxergar um ‘’oponente’’ pior que você é necessariamente viável para dar continuidade na vida. É mais ou menos parecido com aquelas disputas do coelho correndo atrás da cenoura. Pobre ilusão animal.

Outro dia, o menino que pensava demais fez uma entrevista para ele mesmo e sua última resposta para sua última pergunta era: Gostaria de estar assistindo o time de preto e branco ao lado da menina dos olhos grandes. E que duelar com o destino era uma coisa que ele jamais conseguiria sozinho.

Um dia o menino conversou com um guardador de carros que disse: ‘’a noite é cruel, do mal e é por isso que eu trabalho a noite’’. Então ele percebeu que a fuga que o homem tinha era se livrar do seu maior medo, o medo do escuro. O medo que muitas vezes nos coloca em uma parede de espinhos.

A forma voraz com que o segundo tenta passar o primeiro e a forma ambígua que o primeiro manipula o segundo são filosofias de vida que nenhum pensador de qualquer escola fará o menino se desapegar. Discussões e mesmices permeiam desde os mais letrados até os mais ébrios e segundo um dos maiores pensadores de todos:

’ olhar altivo, coração orgulhoso e até a lavoura dos ímpios são pecado. Os pensamentos do diligente tendem à abundância, mas os de todo apressado, tão-somente à pobreza. Trabalhar por ajuntar tesouro com língua falsa é uma vaidade, e aqueles que a isso são impelidos buscam a morte’’.

Hoje o menino tenta lutar contra seus pensamentos e quem sabe um dia possa viver alegre para sempre.

‘’Quero trabalho, quero salário, quero um atalho. Que as questões possam ir embora sem dizer adeus e que as respostas estejam escritas no meu capacete’’

2 comentários:

  1. o menino que pensava demais é uma mistura de pequeno príncipe e menino maluquinho: doce, profundo, questionador, buscador. Alguém de outro mundo, que só veio aqui, para melhorar este. Sorte nossa que ele trouxe sua sensibilidade para assim poder sentir o que o mundo exala, enquanto um habitat de seres socialmente organizados. Triste para ele que trouxe sua sensibilidade, pois pode sentir em si o que o mundo exala, enquanto habitat de seres socialmente organizados. Força para ele, para transformar o quixotesco em dantesco. Para transmutar em si o feio em belo e retornar a esse mesmo mundo, uma exalação de perfumes do bem. Sementes para desintoxar o ar para aqueles que ainda questionam a confusão planetária e querem sair da matrix. Bjo.

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  2. Essa é uma realidade latente e comum a muitos.

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